sábado, 16 de outubro de 2010

Co-dependencia: "Amar é deixar o outro se responsabilizar por suas escolhas" (a desconhecido)

“Co-dependente é a pessoa que carrega sua própria nuvem de chuva” (anônimo).
Cada um de nós têm um grau de dependência, que é até natural e esperado num ser humano saudável, e isso é importante nos nossos relacionamentos afetivos mais próximos; mas também temos um grau de “autonomia”, que nos mantém saudáveis, isso não quer dizer ser auto-suficientes pois somos um ser social e precisamos do convívio com o outro, dos estímulos e afetos trocados nos relacionamentos, no entanto, a dependência traz uma deterioração de sua autonomia enquanto ser humano, não somente quando é uma dependência a algo, mas também, “ a alguém”.
Muitos já ouviram falar em co-dependência, um termo relativamente novo e usado, principalmente para pessoas que convivem com um dependente químico (DQ). Mas é muito mais amplo do que isto e acomete todas as pessoas que se deixam afetar muito pelo comportamento daquele(s) com quem muito se preocupam e a quem vivem querendo controlar. Isto tira o foco de sua própria vida, desorganizam-se vivendo em constante ansiedade, trazendo muitos desequilíbrios psicológicos e emocionais, desembocando muitas vezes em doenças físicas. E, o que é pior, isto não ajuda a(s) pessoa(s) pela qual o co-dependente tem afeto, atrapalha mais ainda e muito (mas demora para ele perceber). O resultado é desastroso para todos.   
Inicialmente isto foi estudado em pessoas que conviviam com dependentes químicos de álcool e outras drogas (filhos, pais, cônjuges, irmãos, tios, avós, amigos, sobrinhos, netos..), mas a medida que a co-dependência foi sendo melhor entendida, percebeu-se outras conotações e isto se estendeu a outras pessoas que vivenciam outras situações também. Entre inúmeras situações pode-se destacar: as já citadas acima de pessoas que convivem com dependentes químicos (DQ), os próprios dependentes químicos que já podiam apresentar isto muito antes mesmo de se tornarem DQ; pessoas que convivem com outras mentalmente ou emocionalmente perturbadas, que se relacionam com doentes crônicos, que convivem com pessoas irresponsáveis, com compulsivos por jogo, sexo, compras; pais de crianças e adolescentes com problemas de comportamento, enfermeiros, assistentes sociais e outros profissionais que ajudam outras pessoas.
Para um melhor entendimento, temos que refletir e perceber que todos nós somos co-dependentes de alguma maneira e em algum grau, de alguém ou de alguma coisa, chegando as vezes a ser muito pernicioso, as vezes nem tanto. E, o mais importante é perceber e definir o problema, porque isto ajuda a determinar a solução, e solução significa recuperação e mudança.
Tentando resumir, ser co-dependente significa que temos deixado o comportamento de outra(s) pessoa(s) nos afetar muito e por tempo prolongado e que somos obcecados em controlar o comportamento dessa(s) outra pessoa(s). Seja quem for esta outra pessoa, o centro da definição e da recuperação não esta na outra pessoa, por mais que o co-dependente acredite nisto, mas está nele mesmo.
O Co-dependente esta sempre com o foco no outro e o vinculo não se concentra no amor ou na amizade, mas na doença do dependente, sendo ele usuário de drogas ou não. Por isto, quando o outro se recupera, pode sentir-se inútil, não sabendo mais viver sem alguém para controlar, sente-se muitas vezes vazio e depressivo, podendo com seu comportamento até afetar negativamente o do outro já recuperado. Se a doença do outro esta sob controle ou ele não precisa mais de seus cuidados, qual será agora seu foco, quando só se dedicava a controlar a vida do outro?
É natural desejar proteger e ajudar as pessoas que nos são caras e sermos afetados e reagirmos aos problemas das pessoas a nossa volta. E quando um problema se torna mais sério e sem solução, reagimos mais fortemente ainda. Os co-dependentes são reacionários, reagem demais, reagem de menos, mas raramente agem. É normal reagir à tensão, mas é corajoso aprender a não reagir a agir de forma mais saudável.
Ser um co-dependente não significa ser mau, defeituoso ou inferior. Muitos aprenderam estes comportamentos quando crianças, outros bem mais tarde. A maioria pode ter aprendido isto por necessidade de proteger a si mesmos e satisfazer suas necessidades, porque se conviver com pessoas normais e saudáveis já não é fácil, conviver com pessoas doentes, perturbadas ou problemáticas é particularmente difícil. Mas estes comportamentos autoprotetores inicialmente, já podem estar ultrapassados em sua utilidade. As vezes, o que fazemos para nos proteger, vira-se contra nos e nos fere, podemos estar fazendo as coisas erradas pelas razões certas.
O co-dependente tem grande tendência a sentir-se responsável pela outra pessoa e compelido a ajudar a pessoa a resolver seu problema, tentar agradar aos outros ao invés de a si mesmo, sentir raiva, sentir-se vitima, achar que esta sendo usado e que não esta sendo apreciado ou recebendo a gratidão que merece; sentir-se culpado e com baixa auto estima; a ter medo de ser quem é; sentir-se incapaz de parar de pensar, falar e preocupar-se com outras pessoas e seus problemas, vigiar a pessoa e concentrar toda sua energia nos problemas dos outros; tentar controlar os acontecimentos e as pessoas através de coerção, culpa, ameaças, aconselhamento, manipulação ou domínio; mentir para si mesmo e acreditar em mentiras, ignorar ou fingir que os problemas não estão acontecendo ou não são tão ruins como realmente são, ocupar-se ou ter obsessão por outras coisas para não pensar sobre o que o angustia, adquirir compulsões,  tomar tranqüilizantes, podendo até se viciar em álcool ou drogas.  Muitos deles procuram a felicidade fora de si mesmos e fecham-se a tudo e a todos que possam lhe trazer felicidade, não se amam e procuram desesperadamente amor e aprovação, quase sempre procuram o amor de pessoas incapazes de amar, perdem o interesse em sua própria vida quando amam, temem que as outras pessoas venham a deixá-los, continuam em relacionamentos que não funcionam e quando estes acabam, tendem a procurar outros que também não lhe fazem bem. Decidem que não irão mais tolerar determinados comportamentos de outras pessoas, mas aumentam gradualmente sua tolerância até poder tolerar e fazer coisas que disse que nunca fariam. Passam a não confiar nos outros e nem em si mesmos, podem perder a fé e a confiança em Deus, misturar reações passivas e agressivas, podendo ate adoecer mental ou fisicamente, ficar deprimidos e pensar em suicídio. Outros aspectos poderiam ser incluídos aqui, mas estes já servem para dar uma visão geral.
Importante ressaltar que cada pessoa é única, diferente e tem sua maneira de sentir e fazer as coisas, cada um apresenta um certo numero de características e  com intensidades diferentes. 
Algumas dicas importantes seria perceber se a preocupação se transformou em obsessão, se a compaixão se transformou em tomar conta, se esta cuidando de outras pessoas e não de si mesmo, então com certeza isto é uma co-dependência. E cada um pode decidir se a co-dependência é um problema em sua vida, se isto deve mudar e quando isto deve acontecer.
Quando percebem e decidem investir em si mesmos, a recuperação é libertadora, permitindo que as pessoas sejam quem são e ajuda as outras pessoas ao redor a serem quem são também. Vai acabando com a dor insuportável com a qual muitos podem ter vivido por muito tempo. Envolve aprender um novo comportamento : tomar conta de si mesmos.
Nem sempre é fácil, mas é simples, baseada em algo que nos esquecemos ou nunca aprendemos: cada pessoa é responsável por si mesma. Permite amar a nós mesmos a aos outros, que aceitemos em receber amor; tornando ótima a atmosfera a nossa volta para que as pessoas ao nosso redor possam ficar e continuar a ser saudáveis também.
A recuperação trilha o caminho de se dar o direito de viver sua própria vida e de começar a permitir-se ser feliz!
“Amar é deixar o outro se responsabilizar pelas suas escolhas” (autor desconhecido).
Em outro artigo discutiremos algumas idéias de como se iniciar neste caminho de recuperação.
Maria José Gomes S Nery
Psicóloga Clinica com Mestrado e varias Especializações, incluindo Dependência Química, no tratamento dos DQ e seus familiares, em grupo e individual.
Atendimento em consultório, residencial e pela Internet (MSN, skype).

3 comentários:

  1. Achei esse blog na hora certa, assumo que sou co-dependente mas estava a procura de palavras que me dessem essa certeza, agora vou procurar minha cura, vou me permitir ser feliz..... So posso te agradecer e espero que continue com seus comentarios pois acredito ser uma forma de ajudar aqueles que buscam a sua propria cura.

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  2. Devo dizer obrigado!
    tava procurando respostas e encontrei aqui
    quando tiver mais postagens sobre o assunto gostaria de ser informado se não lhe der trabalho
    gaio2@hotmail.com

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  3. Nossa!!Eu sabia que havia algo errado comigo..
    Tudo se encaixa direitinho em meu perfil, em meus pensamentos e na minha reação.
    Não imaginava que existia a co-dependência, e com certeza, a alguns bons 16 anos convivio com esses sintomas..e só tenho 33 anos...

    Agora, com esforço, seguirei a diante.. até a cura!

    Obrigada pelas preciosas informações...

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